Apesar de fazer sucesso com os taxistas em São Paulo, o carro elétrico ainda é uma realidade distante no País
Fabricado no Japão, o Nissan Leaf não é vendido no Brasil. Se fosse, custaria com os impostos cerca de R$ 200 mil.
Divulgação
SÃO PAULO (SP) - Pouca gente sabe como é conviver diariamente com um carro elétrico. Mas quem já vive essa experiência, aprova. O modelo se destaca pelo silêncio, economia e conforto justamente no trânsito pesado das grandes cidades. Essa é a conclusão de José Nunes, 70 anos, taxista há três décadas na cidade de São Paulo. Ele começou dirigindo um fusquinha, mas desde 2012 conduz um carro movido 100% a energia elétrica. “É melhor que gasolina, etanol ou gás natural”. Nunes não está exagerando. Para rodar 100 km com seu hatch que não consome combustível e nem polui o ar o custo é cerca de R$ 11 em energia. A conta, para rodar a mesma distância com um carro popular que fizesse 10 km/litro de gasolina sairia por volta de R$ 30.
A economia média do carro elétrico é de 70%. Se levarmos em conta as despesas com manutenção a diferença também é gritante. “Carro elétrico não tem óleo pra trocar, nem filtros, velas e nem correia”, diz o taxista. Em 60 mil quilômetros rodados, a única despesa que Nunes teve foi com um jogo de pneus. José Nunes é um dos 10 taxistas escolhidos pra dirigirem o Leaf, modelo elétrico fabricado pela Nissan. O carro não é vendido no Brasil, mas faz parte de um programa bancado pelo fabricante japonês, com apoio da Prefeitura de São Paulo, da companhia energética estadual (Eletropaulo) e a associação paulista de taxistas (Adetáxi). Os carros foram cedidos em regime de comodato por três anos.
Nunes sequer paga a energia elétrica que seu carro consome. O abastecimento, ou melhor, recarga da bateria, é feita em 15 pontos espalhados pela capital paulista. A energia nesses locais é de graça e a recarga rápida não demora mais que 30 minutos. O taxista pode utilizar ainda um kit caseiro(parece um carregador avantajado de celular). A carga lenta leva oito horas. Em troca, os profissionais do volante produzem relatórios sobre o comportamento do veículo onde registram problemas, sugestões e relatam dúvidas mais comuns da população sobre o veículo.
Nunes até hoje é uma espécie de “embaixador” do projeto de táxis elétricos. Ele anda com folhetos sobre o Leaf e não foge de nenhuma pergunta. - Mas o carro não é lento?, provoco. Num trecho mais livre, o taxista pisa com gosto no acelerador até o velocímetro digital marcar rapidamente 70 km/h. “Ele desenvolve bem”, diz. Pudera, o motor do Leaf rende o equivalente a 108 cavalos de potência. A velocidade máxima, segundo a Nissan, é de 145 km/h e a autonomia é de 160 km. Como o carro não tem marchas para serem trocadas (a aceleração é contínua) e não faz barulho de motor, o Leaf é bem menos desgastante para quem trabalha dirigindo o dia inteiro.
Ecologicamente correto, silencioso, confortável, e muito econômico o táxi elétrico é a solução para as grandes cidades? Poderia ser, mas ainda não há nenhum incentivo para que ele seja usado em larga escala. Para a Nissan, o projeto de táxis elétricos promovido em São Paulo e também no Rio de Janeiro (a cidade tem 10 modelos Leaf rodando há dois anos) cumpre o seu papel de testar o veículo em condições brasileiras. O diretor de comunicação da Nissan, João Veloso, diz que a renovação do programa está em estudo, mas não há nada definido. O executivo afirmou que a marca tem inclusive interesse em fabricar o carro no Brasil, mas a falta de incentivo por parte do governo federal para a produção de carros elétricos não viabiliza o projeto.“É uma pena porque em vários países a produção do carro elétrico é apoiada. Aqui o Leaf pagaria impostos como se fosse um veículo com motor 2.0, o que deixaria o preço final muito alto”, justifica Veloso. Ele calcula que se o Leaf fosse vendido no Brasil custaria hoje, com todos os impostos, em torno de R$ 200 mil.
Fonte: Jornal do Commercio em 02/05/2015
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