Friday, May 13, 2016

Na China, se o carro for elétrico o governo paga 50%

GUANGZHOU AUTO TRUMPCHI GS4 EV
O Salão de Pequim 2016, na China, é um evento global, mas também exibe muitos lançamentos exclusivos para o mercado local. Ao chegar a sua edição nº 14, já aberta ao público e com visitação até 5 de maio, o evento dá uma clara demonstração de que o futuro da mobilidade no gigante asiático é elétrico.

Os oito pavilhões ocupados pelos expositores do salão em Pequim exibem ao público um total de 1.179 modelos, sendo 147 utilizando propulsões alternativas aos motores somente a combustão. Há muitos híbridos, mas a maioria é puramente elétrico, e por uma razão bem simples: o governo chinês subsidia cada carro elétrico em 60 mil yuan (US$ 9.240), valor que pode representar 50% do valor final da compra.
A Lifan é uma das montadoras que adapta seus modelos à eletricidade

O forte incentivo aos carros 100% elétricos deve-se à preocupação com o meio ambiente e o desejo de tornar-se independente do petróleo.

A China é o país mais populoso do mundo (1,4 bilhão de habitantes). É dela, também, o título de maior mercado de automóveis: ano passado, registrou 24,6 milhões de carros vendidos, mais de 12 vezes o atual mercado brasileiro. Com números assim, além de uma taxa de crescimento do PIB variando entre 5% e 10% nos últimos anos, fica fácil entender que as emissões de poluentes são um grave problema para os chineses. Em dias ensolarados, uma densa camada de poluição no ar (fumaça e partículas) chega a impedir que se veja o horizonte.
Skyline de Chongqing num dia normal: não é neblina, é poluição

Já o petróleo é uma questão estratégica e geopolítica para a China. Diferentemente do Brasil, o país não possui reservas suficientes para garantir desenvolvimento econômico baseado em combustível fóssil. Para diminuir sua dependência pela produção energética de outros países (inclusive o Brasil), o governo chinês decidiu pular etapas no desenvolvimento de sua indústria automotiva e chegar logo aos carros elétricos -- enquanto isso, outros países tentam prolongar a vida dos motores a combustão investindo em novas tecnologias e mesmo em táticas comodownsizing e sobrealimentação. 

A China quer aproveitar a farta geração nacional de eletricidade por meio de usinas eólica (vento) e a carvão (as termelétricas, que também prejudicam o ambiente) para mover boa parte da frota local. Desde o final de 2014, o governo implementou medidas de incentivo à produção e venda de carros elétricos, como o já citado subsídio e também a suspensão de restrições.
Sinopec, maior refinaria de petróleo da China, é de 2000

Cidades como Pequim, com seus mais de 25 milhões de habitantes, controlam os emplacamentos de veículos: são apenas 20 mil por mês. Para um morador dela comprar um carro, deve antes participar de um leilão (por meio da internet) e adquirir uma placa -- que custa em torno de US$ 14 mil. Somente com ela em mãos poderá fechar o negócio. Outras três cidades chinesas adotaram esse procedimento -- inclusive Chongqing, sede da Lifan.
ELÉTRICO É ISENTO
Mas nada disso é necessário se o interessado optar por um carro movido a eletricidade: nesse caso, a placa está garantida. Além da economia de ao menos US$ 14 mil, é nessa etapa que o governo entra com o prêmio de 60 mil yuan, válido para elétricos de qualquer marca (a única exigência é que seja fabricado na China). 
Esse conjunto de ações em prol dos carros elétricos já parece dar resultado na China. Em 2014, mesmo antes de o programa de eletrificação da frota completar um ano, o número de carros elétricos nas ruas chinesas atingiu cerca de 55 mil unidades. No ano seguinte, cresceu espantosos 450%, chegando a 247 mil.
Chery EQ, variação elétrica do QQ, é outro exemplo de adaptação

A meta do governo comunista é ter, até 2020, 5 milhões de carros elétricos circulando no país. São menos de quatro anos para chegar a esse número, que soa otimista até para a China, um país que costumeiramente realiza façanhas fora do alcance de países menores e/ou com economia menos controlada.

OFERTA GRANDE
Mas, 
caso a meta não seja alcançada, não será por falta de opções para o consumidor. Todos os estandes de marcas chinesas aqui no Salão de Pequim exibem ao menos um modelo elétrico; na verdade, a maioria têm de dois a cinco carros, que vão de subcompactos a SUVs e sedãs grandes, e que podem ser adaptações de modelos antes somente movidos a combustão, ou então projetos totalmente novos.
JAC Motors, por exemplo, optou por eletrificar carros já conhecidos do brasileiro. No estande da marca estão variações de J2, J3 e T5 elétricos (rebatizados iEV6, iEV6E e iEV6S, respectivamente). Lifan e Chery, que também operam no Brasil, foram pelo mesmo caminho.
Luxgen S3 EV é um dos modelos já concebidos como elétricos

A primeira mostra o compacto 330 e o sedã 720, enquanto a Chery oferece o SUV Tiggo 7, o sedã Celer e o subcompacto EQ (variação do QQ). Todas elas possuem outras opções elétricas, em alguns casos ultrapassando, em número, as de motorização convencional. QorosLuxgen e Zotye (esta última acaba de anunciar uma fábrica no Brasil) trazem os lançamentos Q Lectriq EV, 3 e eCool, representando a ala das chinesas que desenvolvem modelos já concebidos como puramente elétricos.

Na galeria que acompanha esta reportagem há 
fotos de vários modelos elétricos exibidos no evento de Pequim.

TÃO BOM QUANTO
Independentemente da estratégia industrial, os representantes das montadoras chineses garantem que a tecnologia dos carros elétricos é de ponta. Presente no Salão de Pequim, o presidente da JAC no Brasil, Sérgio Habib, garantiu que "a mesma tecnologia que a Tesla oferece em seus carros, o S2 [nosso futuro T3] também tem". Ao citar a pioneira marca californiana, a referência é a baterias de íons de lítio e autonomia de mais de 200 km com uma única carga.
A Lifan também exalta seu departamento de pesquisa e desenvolvimento, lembrando que oferece baterias removíveis para que o carregamento seja feito fora da carroceria, o que, segundo o presidente da montadora, Mu Gang, contribui para a longevidade do carro e da bateria, facilitando a manutenção e a eventual troca. 
O panorama na China é nebuloso (literalmente), mas o caminho para a construção de um futuro mais amigável com o meio ambiente está sendo trilhado. Só o tempo vai dizer se os motoristas chineses, hoje ainda encantados com sedãs luxuosos e utilitários de sete lugares, vão aderir em massa ao programa de eletrificação da frota controlado pelo governo. Uma das recompensas será um céu mais azul que o de Chongqing e Pequim.
Fonte: Carro Online

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