- Principais centros do país não conseguem cumprir limites de emissões acordados
Uma cidade arborizada de 275 mil habitantes no cinturão suburbano de Frankfurt está abrindo uma nova frente na batalha da indústria automotiva alemã contra a poluição. Um tribunal administrativo de Wiesbaden, conhecida por uma histórica fonte de águas termais e por uma gigantesca base militar dos Estados Unidos, ordenou que o governo do Estado de Hesse, onde o município se localiza, elimine a poluição provocada por motores a diesel até setembro, do contrário será multado.
A decisão, tomada em janeiro, foi a primeira a aplicar limites às emissões, colocando o governo em um dilema: acatar a ordem ou alarmar a indústria automotiva. Com a admissão de fraude nos controles de poluição de milhões de carros da Volkswagen ainda presente na mente do público, a decisão da Justiça é um sinal da frustração com a lentidão das autoridades regionais no tocante à limpeza do ar.
A decisão do tribunal marca um "importante ponto de inflexão na política de transporte, não apenas em Hesse, mas em todo o país", disse Remo Klinger, professor de Direito que representa a Environmental Action Germany, o grupo de pressão que entrou com a ação judicial contra o Estado. "Outros tribunais acompanharão a decisão, com certeza", previu.
O movimento coloca ainda mais pressão sobre as fabricantes alemãs, incluindo Audi, BMW e Mercede-Benz, para que acelerem a descoberta de alternativas ao diesel. "Ou encontramos uma solução comum -- temos dois anos, talvez -- ou será ditada uma solução externa para nós", admitiu o presidente-executivo da Volkswagen, Matthias Müller, em evento do grupo realizado no começo do mês para discutir soluções à crise.
Além do escândalo, o compromisso assumido por União Europeia e Estados Unidos no acordo climático da ONU (Organização das Nações Unidas), em dezembro do ano passado, está forçando administradores locais a encontrar formas de frear as emissões de gases do efeito estufa.
Em junho passado, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, abriu processos de infração contra a Alemanha porque 29 regiões -- incluindo suas maiores cidades, Berlim, Hamburgo e Munique -- não conseguiram cumprir os limites de emissão de óxidos de nitrogênio, um subproduto da queima do diesel. "Nenhuma das cidades tem ideia de como podemos nos posicionar abaixo desse teto", disse o prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, quando se reuniu com Müller e outros executivos do setor automotivo.
O tribunal de Wiesbaden deu ao governo de Hesse de dois a três anos para limitar as emissões de NOx. O Estado respondeu que "já usou todos os instrumentos razoáveis" para atingir as metas e está apelando da decisão. Segundo o Escritório Federal de Meio Ambiente da Alemanha, só em 2015 as emissões provenientes do diesel excederam em 60% os limites admissíveis das 374 estações de testes do país. As partículas finas emitidas pelos escapamentos podem causar, junto com o óxido nitrogênio, 10.000 mortes por ano na Alemanha só em território alemão, segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente.
Domínio no diesel
O assunto é prejudicial para as fabricantes de automóvel alemãs, que dominam as vendas de carros a diesel tanto nos EUA quanto na Europa. Quase metade dos 3 milhões de novos carros vendidos por ano na Alemanha são movidos a diesel, segundo a associação de revendedores do setor. Nos EUA, VW, BMW, Audi e Mercedes-Benz detêm 92% do mercado de carros novos a diesel, segundo o Conselho Internacional de Transporte Limpo.
Cerca de 74% de todos os automóveis vendidos pela BMW são a diesel. Na Audi, a fatia é de 67%. Em 2015, apenas um terço da frota de carros a diesel da Alemanha cumpria o padrão de emissões da União Europeia. Na semana passada, a Mercedes revelou o primeiro de uma série de novos motores a diesel da marca, comprometendo 2,6 bilhões de euros (R$ 11,5 bilhões). Metade dos 14 milhões de carros a diesel existentes na Alemanha será substituída por modelos mais novos (e limpos) nos próximos cinco anos, conforme estimativas da VDA.
Fonte: UOL Carros
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