Para as fabricantes de automóveis, a China está se transformando na nova Califórnia. Há alguns anos, esse estado dos Estados Unidos assumiu a vanguarda na definição de normas de uso eficiente de combustíveis para acabar com a poluição urbana. Agora, como a China está enfrentando dificuldades para resolver sua crise de poluição atmosférica, Pequim tem uma influência cada vez maior nos modelos e na tecnologia que Detroit, Europa e Japão vendem em todo o mundo.
Como resposta às normas e aos incentivos governamentais que estimular as vendas de carros elétricos na China, as fabricantes de automóveis estão reforçando as ofertas internacionais de veículos elétricos e híbridos plug-in (cujas baterias podem ser recarregadas na tomada). A General Motors pretende fabricar uma versão híbrida plug-in de todos os modelos da marca Cadillac. A Ford orçou US$ 4,5 bilhões para desenvolver 13 novos carros elétricos e híbridos plug-in até 2020, e a China é a principal razão em ambos os casos.
Entre as alemãs, a Mercedes-Benz está vendendo cinco modelos plug-ins na China, dois deles também vendidos nos EUA. Do mesmo modo, a BMW está modificando os híbridos plug-in que vende em todo o mundo para adaptá-los às normas chinesas referentes a veículos elétricos.
"Originalmente, começamos com as normas da Califórnia, então nosso ponto de partida foram os EUA", disse Klaus Fröhlich, diretor mundial de desenvolvimento de produto da BMW. "Agora, a China é um mercado fundamental. É muito importante, e as normas são bastante difíceis".
Normas chinesas
Embora a China queira incrementar as vendas e se tornar destino-chave para as vendas de novos modelos das fabricantes internacionais de automóveis, o país também quer ter um ar mais limpo. Por isso, agora exige que as frotas de órgãos e companhias estatais sejam compostas por pelo menos 30% de carros elétricos ou híbridos plug-in. Se não cumprirem essa norma, correm o risco de perder importantes subsídios de serviços púbicos, como eletricidade e água. Os subsídios podem fazer a diferença entre o lucro e o prejuízo, disse Michael Dunne, presidente da empresa de consultoria Dunne Automotive, com sede em Hong Kong.
"Os políticos chineses estão muito preocupados com as críticas públicas à qualidade do ar", disse Dunne. "Eles estão atacando esse problema de todos os ângulos e só estão começando".
Com isso, a China já vende muito mais modelos de carros elétricos do que os EUA; atualmente, há 30 disponíveis. Esse total aumentará para 80 por volta de 2020, mas muitos deles serão fabricados por pequenos produtores chineses, de acordo com a IHS Automotive. Os EUA têm apenas um punhado de modelos agora, e 44 estarão disponíveis em 2020.
Mesmo assim, tem sido difícil vender os carros elétricos na China por causa da falta de estações de carregamento. Isso poderá mudar em breve: o governo está considerando um programa para investir US$ 16 bilhões em estações com capacidade para atender a 5 milhões de carros elétricos até 2020, informou a Bloomberg.
Um investimento desse tipo poderia ajudar a estimular as vendas de carros elétricos do mesmo modo que as vendas de híbridos plug-in foram fomentadas, disse Dunne. "O governo chinês fará todo o possível para fazer com que as pessoas se sintam confortáveis com os carros elétricos", afirmou.
Retoque mundial
As decisões tomadas em Pequim já estão afetando os carros dirigidos em Dallas e em Los Angeles. As fabricantes de automóveis tendem a criar novos modelos para vendê-los em diversas regiões -- e a China é o maior mercado automotivo do mundo. A GM modificou seu novo elétrico Chevrolet Bolt para vendê-lo no mundo inteiro, inclusive na China.
Embora até o momento só os planos para os EUA tenham sido anunciados, "nós não planejamos só para os EUA", disse Pam Fletcher, engenheira-chefe de veículos elétricos da GM, em uma entrevista na feira de tecnologia CES, onde a GM apresentou o Bolt. "O governo chinês está muito interessado nos veículos elétricos".
Os motores a gasolina também estão sendo modificados para cumprir as normas chinesas de uso eficiente de combustível: a Cadillac criou o motor mais potente de seu sedã CT6, um twin-turbo de 3 litros, especificamente para evitar os altos impostos chineses sobre qualquer motor de mais de 3 litros.
"A China realmente influencia o modo em que colocamos nossa estratégia em prática", disse Johan de Nysschen, presidente da Cadillac. "E vai continuar tendo um papel cada vez mais proeminente".
Fonte: UOL em 08/01/2016
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