Você deve imaginar que um automóvel que dispensa o motorista tenha tecnologias revolucionárias, mas parte das peças já estão em seu carro hoje
Os principais itens que transformam um carro “comum” em um autônomo já podem ser encontrados em veículos de produção. São eles: radares, sensores, câmeras e até mesmo o controle eletrônico de estabilidade (ESP).
Antes de explicar cada tecnologia, é preciso esclarecer como o sistema trabalha no geral. Para facilitar, basta pensar no funcionamento do corpo humano: o carro também possui um cérebro que comanda as ações – no veículo, ele é chamado de Unidade de Controle Eletrônico (ECU, na sigla em inglês). Os sensores fazem a função dos olhos, ouvidos, tato... E, por último, os atuadores, que transformam informações em movimentos. Em uma pessoa, seriam os braços e as pernas. Ao entender como eles funcionam e trabalham, você também entende um pouco do que torna possível um carro andar sem um motorista.
Câmera
As câmeras são consideradas sensores, já que elas geram imagens e fazem a função dos olhos. Tudo que a câmera registra é enviado para a ECU (cérebro), que detecta estruturas, objetos e pessoas. Se a central detectar que uma criança apareceu na frente do carro, por exemplo, ela irá acionar o freio (atuador) e irá parar o carro sozinho. Em produtos mais evoluídos, duas câmeras geram uma imagem 3D para ter percepção de distância.
iBooster
Assim como o ESP, o iBooster é capaz de frear o carro. Algumas empresas, como a Tesla, usam a peça como reserva, caso haja uma pane no controle eletrônico de estabilidade. O iBooster serve como um backup. Além disso, pode ser usado em frenagens de emergência, já que desenvolve pressão de freio três vezes mais rápido do que o ESP.
Controle eletrônico de estabilidade
Você pode estar se perguntando como um carro é capaz de frear e acelerar sozinho. A resposta é simples e já está em diversos modelos no Brasil: controle eletrônico de estabilidade. É impossível pensar em carro autônomo sem pensar em ESP, que é capaz de gerar pressão de frenagem em qualquer roda isoladamente. Em um carro "normal", impede que você perca o controle em situações de risco, como curvas fechadas e desvios bruscos. Se tudo der certo, ele se tornará obrigatório para veículos 0 km no Brasil em 2020.
Sensor Ultrassônico
Você conhece esse componente com o nome de sensor de estacionamento, usado exclusivamente para manobras a no máximo 10 km/h. Sua função? Medir a distância entre o carro e uma parede, por exemplo. A ação é feita por meio de uma frequência de som: um pulso é emitido, bate em um obstáculo e volta. O sensor calcula o tempo e a velocidade em que o pulso retorna e, dessa forma, consegue concluir a distância. A frequência é tão alta que é impossível ouvir. Por isso, são chamados de ultrassom.
Radar
Assim como o sensor ultrassônico, o radar serve para medir distâncias. A diferença entre eles? O radar consegue detectar objetos que estejam mais afastados por utilizar frequência de rádio e não de som. O som se propaga no ar com a velocidade de 340 metros por segundo. Já a onda de rádio faz o mesmo trajeto em 300 mil km por segundo. O radar ainda é capaz de calcular a velocidade dos carros e dos objetos da via e classificá-los como relevantes ou não. Carros com ACC, que freiam e aceleram de acordo com o trânsito à frente, já possuem esses radares.
Lidar
Segue o mesmo princípio do radar. A principal diferença entre eles: o radar utiliza onda eletromagnética de rádio, enquanto o lidar utiliza onda eletromagnética de luz, o laser. O componente também mede distâncias e consegue identificar objetos e pessoas. O feixe de luz refletido tem características diferentes para cada tipo de partícula atingida. A tecnologia parece com a de um scanner e também é capaz de criar um mapa 3D da via em alta resolução.
Entrevista:
"Tudo precisa evoluir: a proteção de dados, a legislação, a indústria, os produtos e até a mentalidade das pessoas"
Leimar Mafort, gerente de engenharia da divisão de sistemas de chassis da Bosch América Latina
Em termos de tecnologia, o que você imagina para o futuro dos autônomos?
É difícil falar em futuro, pois cada montadora tem uma arquitetura diferente. Mas eu acredito na evolução dos radares, do lidar, das câmeras e do VMPS, uma nova tecnologia com sensor e GPS. O VMPS usa informação de satélite para dizer onde o carro está exatamente, na precisão de centímetros.
Os carros autônomos irão aprender a se comunicar. Como a Bosch acredita que isso irá acontecer?
Esse é o chamado carro conectado, o car to car communication. A comunicação pode ser feita por meio de uma central, nós temos coisas desse tipo, como o Cloud da Bosch para informação. Vou dar um exemplo que já está sendo implementado. Imagina o seguinte: um carro pode identificar uma vaga e avisar a central, que é capaz de notificar um outro veículo que esteja à procura de um local para estacionar.
Na sua opinião, quando vamos ver carros autônomos nas ruas do Brasil?
É difícil prever, já que não sabemos como as coisas vão evoluir. Mas eu acredito que a tecnologia deva aparecer entre 2020 e 2025 no mundo. Primeiro, nós devemos ver um veículo que consiga pegar a Anhanguera sozinho, por exemplo. Mas o processo vai depender não só da tecnologia. Tudo precisa evoluir: a proteção de dados, a legislação, a indústria, os produtos e até a mentalidade das pessoas. Hoje o avião consegue fazer tudo sozinho, mas quem entraria em um avião sem piloto? Esse conceito precisa ser trabalhado. Acredito que as futuras gerações vão ver isso de outra forma.
Fonte: Auto Esporte
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